Hoje..

.. eu quase me desprendi de você, mas aí a sua mão se estendeu mais querendo do que sem querer e senti aquele impulso no mais fundo de mim pra agarrá-la de uma vez e algemá-la à minha. Mas eu te deixei ali, de mão estendida, e guardei pra mim as milhões de interpretações que passaram pela minha cabeça que não cansa nunca de acreditar. Eu te deixei ali e de novo fiquei no quase que não quer me deixar. Você não sabe mas todos os dias eu quase te ligo, eu quase te convido pra conhecer todos os sonhos que eu guardei pra gente, eu quase leio pra você as minhas novas propostas, eu quase grito que te amo na frente de todo mundo; todos os dias eu quase faço aquilo que minha mente suplica que você faça. Nunca saí do quase. Eu quase acho que te esqueço, eu quase consigo pensar em outra pessoa e me sentir feliz, eu quase decido ser feliz sem você. Logo eu, que sempre preferi as extremidades, fico nesse meio termo enojador. Eu quase não pensei em você hoje, mas aí tocou aquela música que sempre me lembra você e ficou rodando na minha cabeça feito cd arranhado, e então todos os pensamentos acumulados vieram sob forma de avalanche e, de novo, eu quase chorei. Eu quase me convenci de que estava bem sem você, mas aí um cara me perguntou se eu estava sozinha e eu não soube o que responder, porque ainda sou sua e ainda te sinto como meu; então ele chegou mais perto e eu fugi porque ele não era você, não tinha seu perfume, não sabia como me fazer sorrir nem como segurar minha mão por acidente. Eu quase enterrei minhas esperanças com a areia que sobrou do nosso castelo que desmoronou, mas aí alguém disse que você me amava além do que era imaginado e que a minha ausência te deixava mal, e, de novo, com minhas próprias forças, comecei a construí-lo; só que sozinha não basto e tantas vezes a construção desmorona porque não tem você pra fazer sua parte. Todos os dias eu quase deixo tudo ruir de uma vez, mas o amor não deixa. Se ao menos você aparecesse como um pontinho de luz no fim do túnel, se ao menos você dissesse que é só uma questão de tempo, se ao menos você não parasse de remar nosso barco, quem sabe assim o quase me largasse de uma vez. Me agarro ao quase pra não te deixar morrer, porque quero continuar vivendo em você. Me agarro ao quase porque preciso de esperança pra sobreviver, preciso ter pelo que esperar. E se antes esperava por você que sempre vinha me lembrar que o amor ainda existe, hoje eu espero por qualquer resquício seu que possa me lembrar que o amor não morre e que às vezes a distância existe pra fazê-lo mais forte. Me agarro às interpretações que faço dos seus atos, daquele braço que por acaso encostou em mim, daquela frase mal encaixada que parece ter sido dita de propósito, daquele papel que brotou nas minhas coisas. Me agarro a pequenos troncos na correnteza porque não sei se quero que passe. Todo mundo vive me dizendo pra ficar tranquila que logo vai passar, e é verdade, se continuar assim daqui a pouco passa, como quase passa todos os dias, mas eu ainda não descobri se quero mesmo o fim disso tudo. Acho que por isso faço questão de cutucar a ferida, bagunçar os sentidos e de não deixar o sentimento passar nunca. Quando passar, será o fim do calorzinho que sinto quando você fala o meu nome. Será o fim da esperança que sinto toda manhã quando acordo. Será o fim de todos esses textos bobos, dessas mensagens não mais subliminares, desses jogos disfarçados. Será o fim da saudade que sinto quando olho nossos fotos e revivo nossos momentos. Quando passar, eu não ouvirei mais aquela música e lembrarei de você, o seu perfume não fará mais cada centímetro do meu corpo bagunçar, a sua voz não fará a corrida do meu cérebro parar. Não sei se quero que passe. Não sei se quero outra pessoa, que não terá o seu jeito fofo de rir, a sua maneira boba de falar de amor, o seu talento inegável em me fazer sorrir. Não sei se quero deixar de esperar você voltar e me surpreender com alguma palavra de resgate. Não sei muita coisa dessa vida. Não sei o que futuro tem reservado. Só me resta a certeza de que quero você aqui. E que prolongarei o que sinto até o máximo possível, esgotarei todos os meus limites e só desistirei quando for realmente impossível. E se me agarrar ao quase for a solução, hoje faço do quase o meu melhor amigo.